Hoje trago com exclusividade uma
entrevista com Guillermo Barzi, quarta geração da família Canale, e
responsável pela centenária Bodega Humberto Canale da Patagônia. Guillermo, que
encontra-se em plena "cosecha" (colheita) de 2012, gentilmente nos
cedeu alguns minutos para nos presentear com respostas valiosas a cerca da sua
presença na Patagônia e do sucesso de seus vinhos.
Caduco: O "slogan" da
Humberto Canale é o CARÁTER PATAGÔNICO. Qual é o verdadeiro caráter patagônico?
Guillermo: O
"caráter da Patagônia" são a características que a região imprimem em
seus produtos, junto com as mãos do homem que as complementa e as integra. O
planalto da Patagônia, árido, grande, selvagem, inabitado e com grandes
contrastes, gera condições ideais para elaborar variedades viníferas próprias
com muitas expressões de cores e aromas frutados.
Caduco: Quais foram os maiores
desafios em se fazer vinhos na Patagônia que marcaram história na Humberto
Canale? Quais são suas uvas mais trabalhadas?
Guillermo: A Bodega
Humberto Canale é a pioneira na Patagônia. A única que se manteve ao longo do
tempo, superando todos desafios que esta geografia ergueu, para poder sair pelo
país e pelo mundo. Há 100 anos, quando Humbero Canale começou a girar seu sonho
de produzir os vinhos mais austrais do mundo, este se assemelhava aos mitos e
lendas que habitam o lugar. O caminho percorrido, a persistência do fundador e
seus seguidores, retiraram esse sonho do plano mítico para fazê-lo realidade.
Hoje, 100 anos após a sua fundação, o grupo continua com seu objetivo e desafio
inalteráveis: fazer vinhos de qualidade sustentáveis pelo tempo. E isto foi
conquistado apesar das variações políticas e econômicas que reinaram na
Argentina ao longo deste último século. Cem anos que tiveram algumas pausas de
estabilidade, como na década de 90, uma época de mudanças estruturais para o
setor vitivinícola. Durante esse período, pelo Plano de Convertibilidade, foi
possível fazer investimentos que resultaram em modernização da Bodega e propiciaram
a abertura necessária para inserir os vinhos da Argentina no mundo.
E pra nós, as uvas que nos dão
maior satisfação são a Pinot Noir e a Merlot.
Caduco: Falando em uvas, existe
diferença entre a Malbec de Mendoza e a Malbec da Patagônia?
Guillermo: Sim, sem
dúvida é um terroir diferente. Não digo quem é melhor, mas sim que são
diferentes. A principal diferença se dá nos aromas, onde a Malbec da Patagônia
tem aromas mais picantes.
Caduco: Qual é o ponto principal
para o sucesso da Pinot Noir da Humberto Canale, que é comparada aos grandes
vinhos da Borgonha?
Guillermo: Felizmente
é um grande êxito que desde o início foi a varietal que produziu vinhos ícones
na bodega. Temos grandes consultores que estão trabalhando com dedicação nessa
uva. Desde Don Raul de la Mota nos anos 80, seguido por Hans Vinding Diers na
década de 90 e Susana Balbo atualmente. Além disso são uvas de vinhas velhas,
algumas com mais de 40 anos e com muito baixo rendimento.
Caduco: Em uma vinícola
tradicional com a Humberto Canale, o que é mais importante: melhorar os vinhos
que já são consagrados ou buscar novas descobertas?
Guillermo: Como já
disse, nosso maior objetivo é fazer nossos vinhos de qualidade que perdurem
pelo tempo. Buscamos aprimorar nossos vinhos. Isso é o principal.
Caduco: O que pesa mais na
filosofia de trabalho da sua vinícola: as notas de vários avaliadores (ex.
Robert Parker, Wine Spectator, Descorchados) ou o resultado de concursos e
degustações "as cegas"?
Guillermo: Em nossa
filosofia o que mais importa é a resposta do consumidor que reflita todos os
dias nas redes sociais.
Caduco: Como surgiu a idéia de
fazer o maravilhoso Centenium? Qual era a expectativa de combinar Malbec,
Merlot e Cabernet Franc?
Guillermo: O projeto
de fazer um vinho de alta qualidade para comemorar o centenário (2009) começou
a surgir em meados de 2004. Imaginamos incorporar em um blend a varietal ideal
da região patagônica (Merlot), junto com a varietal emblemática da Argentina
(Malbec) e com um tempero sutil da Cabernet Franc. Com essa decisão
selecionamos as três partes, as quais, desde a poda e capinagem, comecaram a
ter cuidados meticulosos na nossa propriedade. Em todo momento não pensamos
somente na produção, mas também em todas as coisas que nos conectam aos nossos
ancestrais, como o amor pelo vinho e pela tradição, a cultura de nossa empresa
familiar através de suas gerações e o esforço para melhorar a cada dia.
Caduco: Como a Humberto Canale
encara o turismo em suas instalações?
Guillermo: Bem,
estamos numa etapa inicial, com visitas diárias, um museu, degustações e
eventos privados. É uma atividade que cresce todos os anos na bodega.
Caduco: Quais são os principais
projetos para o futuro?
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